7 de mar. de 2019

SEMEANDO JARDINS





SEMEANDO JARDINS

de Cirlei Fajardo



Em meus bolsos sempre trago algumas sementes e copio o gesto do Menino do Dedo Verde que coloria o seu mundo e dos outros com algo que alegrasse os olhos e espantasse a solidão e a tristeza para bem longe com a ponta do seu dedo.

Li este livro aos 12 anos... há muito tempo...

E imaginava as paredes do meu quarto com brotos e galhos nascendo milagrosamente nas paredes e no teto e da minha cama sempre arrumada e perfumada eu esticava a minha mão tocando a madeira das paredes... a cama... o colete de gesso que não me largava... mas... nada acontecia! e a parede continuava nua...

Eu devia ter esquecido alguma fala ou talvez não tivesse me concentrado o suficiente... e na teimosia de menina que só podia ler... sem mais nada à fazer... voltava para o livro disposta a descobrir o segredo do menino para colorir o cinza ali existente entre as quatro paredes instalado e de mãos dadas com o silêncio do quarto que era o precioso castelo onde eu reinava absoluta e sem súditos... onde a maior lição foi aceitar que era preciso ter paciência e esperar para que em um dia qualquer... eu pudesse chegar até o batente da minha janela... e... finalmente poder contemplar e inspirar o perfume do jardim de minha mãe onde ela plantava margaridas... lírios... cravos e uma rosa sempre em botão.

O homem de branco falou que eu ia voltar para a escola muito breve e diante do medo eu ouvia uma canção no rádio de pilhas... folheava revistas... livros... fazia um colorido tapete de crochê... tocava minha flauta doce e pensava que já era uma concertista... rsrsrs...

ouvia todos os ruídos que vinham lá de fora... da rua onde as crianças brincavam felizes...

O dia passava e a noite vinha e eu sabia que a lua estava lá fora rodopiando em suas saias...

Até que um dia o príncipe de branco abriu um sorriso entre os seus bigodes e com olhos muito brilhantes... castanhos... verdadeiras  estrelas... disse que tinha chegado a hora de finalmente tirar aquele horrível e gelado colete branco grudado em mim...

Eu pude sair para brincar entre as flores sob o sol ou sob a lua sem pressa e sem correrias assim como me prostrar às janelas e me permitir contemplar toda a vida que passava e ainda passa por mim e sonhar de olhos abertos tanto quanto sonho de olhos fechados porque quando eu não puder mais sonhar será o final e já terei escrito em minhas linhas e entrelinhas duas únicas palavras... até breve!



Ou... The End...



13 de fevereiro de 2019

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