16 de nov. de 2019

Pai Oxalá







QUANDO VIBRO COM O SAGRADO



Uma bela frase para começar mais um silencioso domingo...

Enquanto muitos dormem perambulo pela casa ouvindo o

silêncio que habita aqui...

A rua também silenciosa começa a despertar para um novo dia...

Ouço o som de carros passando na avenida e a geladeira funcionando...

Ouço o tamborilar do meu próprio coração compassadamente sinalizando que ainda estou por aqui...

Na memória o dia de ontem... o triste cortejo matutino... a despedida...

O suave aroma do almoço pronto... o cheiro de shampoo nos cabelos molhados... a preparação para o sagrado encontro comigo e com Oxalá... o vibrar dos meus próprios pés ante o poderoso som dos tambores...

Ninguém nunca saberá o que se passa aqui dentro deste peito

que inspira amor e expira gratidão por estar ali...

entre Marias... Joãos... Joaquins... Jorges... Josés... Romeus... 

O perfume do incenso... do cachimbo, dos palheiros e o brilho das velas acesas me levam para muito longe da cadeira diante do tronco de uma árvore cortada que um dia já esteve enraizada em terra viva e pulsando como eu...

Sentir os pés descalços e não me importar com que sapatos eu saí

de casa... desejar alguns ali comigo diante do maravilhoso exercício

da fé... me abandonar e deixar lá no portão todas as coisas que não precisam me acompanhar... ou escravizar... só sentir o ruflar das asas sobre mim e aquietar minha mente me entronizando nesta magnífica metamorfose que acontece a cada inspiração e expiração na vida pulsando em mim.

Sentar-me à frente e entregar-me mansamente a fumaça do cachimbo,

perfumar-me e benzer-me contra o mal que me acerca diariamente e

sorrateiramente deseja tomar conta de minha alma que caminha na

busca de respostas e de encontro com a minha morada em Aruanda.

Qual a importância de sair dali cheirando a fumaça intragável para

muitos que fogem do sagrado ato de se entregar aos cuidados de um

pai, mãe, avô, avó, ou anjo guardião... seja lá que nome tenha e se

identifique para o mundo carnal... o que importa é o que levam... e o

que deixam conosco quando voltamos para a nosso abrigo temporário.

Somos mais ariscos do que animais irracionais que na sua irracionalidade deixam-se ficar sob as bençãos e mandingas de velhos

e sábios anciãos que viajam distâncias muito longas para estarem

alguns instantes conosco nos bendizendo à pedido de Oxalá.

Meus cabelos, meu corpo físico, minhas roupas, é tudo emprestado e

aqui ficará assim que eu seguir adiante, em Aruanda não precisarei de nada disso, lá serei fragmento divino e num infinito caminho iluminado e amoroso perambularei o universo em asas de qualquer cor sem estar amedrontada de caminhar entre a luz e a escuridão de almas que caminham à esmo e perdidas em busca de novas respostas para novas perguntas que surgirão certamente no tempo que não é meu, mas sim,

do tempo contido na fumaça de alguns cachimbos e incensos queimando no chão branco entre as correntes ainda existentes que a própria fé questiona e levanta como bandeira para a divisão do amor que deveria ser uno e universal entre os homens e toda a sua casta.

Por que insisto em caminhar por estes labirintos onde tudo pode acontecer e se esconder no passo seguinte, qual o objetivo de estar ali sendo a própria fumaça que se reverbera e tudo toca.

Acreditar que estou no lugar e no tempo certo é o primeiro passo para o passo seguinte e a próxima lição.

O ontem e o hoje se fundem e se confundem na lembrança de muitos que simplesmente vagam mas ainda não se encontraram e talvez não se encontrem e precisarão voltar ao ponto de partida e começar uma nova viagem por caminhos donde já caminharam e do qual não perceberam e contemplaram o necessário, o mínimo, a lição.











Cirlei Fajardo

texto iniciado em 17 de março de 2018 05h27min, complementado em

16 de novembro de 2019 16h51 a pedido de pai Romeu de Aruanda.

Pai Oxalá



Uma bela frase para começar mais um silencioso sábado...
Enquanto muitos dormem perambulo pela casa ouvindo o silêncio que habita aqui...
A rua também silenciosa começa a despertar para um novo dia...
Ouço o som de carros passando na avenida e a geladeira funcionando...
Ouço o tamborilar do meu próprio coração compassadamente sinalizando que ainda estou por aqui...
Na memória o dia de ontem... o triste cortejo matutino... o suave aroma do almoço pronto... o cheiro de shampoo nos cabelos molhados... a preparação para o sagrado encontro comigo e com Oxalá... o vibrar dos meus próprios pés ante o poderoso som dos tambores... ninguém nunca saberá o que se passa aqui dentro deste peito que inspira amor e expira gratidão por estar ali... entre Marias... Joãos... Joaquins... Jorges... Josés... o perfume do incenso... o brilho das velas acesas me levam para muito longe da cadeira diante do tronco de uma árvore cortada que um dia já esteve enraizada em terra viva e pulsando como eu... sentir os pés descalços e não me importar com que sapatos eu saí de casa... desejar alguns ali comigo diante do maravilhoso exercício da fé... me abandonar e deixar lá no portão todas as coisas que não precisam me acompanhar... ou escravizar... só sentir o ruflar das asas sobre mim e aquietar minha mente me entronizando nesta magnífica metamorfose que acontece a cada inspiração e expiração na vida pulsando em mim.

Cirlei Fajardo
Quando vibro com o Sagrado
17 de março de 2018 05h27min