27 de nov. de 2017

ÉRAMOS MÚSICA TOCANDO...







ÉRAMOS MÚSICA TOCANDO...

Na solidão da noite lá fora
perco-me em lembranças
de um tempo em que a chuva
era a nossa música predileta...
Em negras vestes eu o encontrei
tocando a melodia que modificaria
toda a nossa vida e nosso destino...
Enfeitiçada meus olhos não fugiam
da seriedade da sua face e pude
apreciar cada detalhe ali lapidado...
Os olhos castanhos com o brilho
da tristeza que ali morava...
A barba rigorosamente aparada
mostrava o capricho do dono
consigo mesmo...
Seus cabelos úmidos do banho
recém tomado traziam no ar
notas do delicioso perfume que
me embriagava...
Suas mãos dedilhavam o piano
e eu as imaginava percorrendo
cada pedaço do meu corpo
fazendo uma bela sinfonia...
Entregamo-nos à ela e dançamos
a mais bela valsa em notas que
cresciam e tomavam conta
de tudo ao nosso redor...
Hoje ainda ouço o piano num
dueto com as gotas da chuva
caindo torrencialmente...
E de meus olhos brotam muitas
lágrimas silenciosas nascidas
da saudade imensa e da dor
trancafiada em meu peito...
Minhas mãos percorrem o piano
silencioso na esperança de que
aconteça um milagre e num passe
de mágica eu encontre o calor das
suas mãos vindo ao encontro das
minhas no frenesi do encontro...
Me vejo ali em pé sem você...
E aos poucos me deixo morrer
como a chuva que aos poucos
é tragada e se esvai sem volta
ao pó assim como nós...
Soluços me invadem e me vejo
só diante do seu piano silencioso
e da chuva que toca uma triste
e desesperadora sinfonia.


Cirlei Fajardo
27 de novembro de 2017

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